terça-feira, 7 de julho de 2009

O meu olhar é nítido como um girassol


O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...

Creio no Mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar...

Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar...

Alberto Caeiro

Desfrutem das palavras...


Há momentos em que os sentidos interpretram o papel principal...
Há momentos em que sou como Caeiro...

E é muito muito bom :) :)


Experimentem...

3 comentários:

João disse...

Ui ui...

O que o absinto não fazia ao Fernando Pessoa!!

É dos poemas mais bonitos da nossa língua.

Pensar é mesmo uma doença.

glória disse...

"sinto-me renascido a cada momento para a eterna novidade do mundo"!
Este é um caminho de aprendizagem permanente...a "ver" quando olhamos, a "sentir" quamdo tocamos e a encantar-nos perante a paleta de cores que é a Vida e a maravilha que podemos descobrir no outro, quando somos capazes de deixar de dizer eu...Hoje passei e apeteceu-me dizer "OlÀ!"

Teresa disse...

Obrigada pela visita Glória :)
Obrigada pela partilha ;)

Um beijinho